Amanhã (22) será lançado o livro sobre Clodesmidt Riani, histórico sindicalista que tem relação próxima com a Feserp Minas
Amanhã, 22 de junho, às 19h30, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, será lançado o livro “Riani – As botinas tentaram calar” sobre a vida do histórico sindicalista e político Clodesmidt Riani. A obra foi escrita pelo jornalista Anibal Pinto e conta com prefácio da ex-primeira-dama do Brasil, viúva do ex-presidente João Goulart (Jango), Maria Thereza Goulart.
“Esforço-me para aceitar que muitos brasileiros não acreditam no apagamento da história, no apagamento da nossa memória, mas não consigo e hoje posso dizer que não quero. Não quero e não vou (uma das poucas coisas boas de envelhecer é não precisar dar satisfação a ninguém). No entanto, para fazer esses brasileiros entenderem que a verdadeira biografia do nosso Brasil não é essa contada pelos opressores, é preciso contá-la e recontá-la incessantemente”. A frase de Maria Thereza Goulart que está no prefácio do livro resume como é importante conhecer a trajetória de pessoas que mudaram a história do Brasil, como foi Riani.
Clodesmidt Riani tem relação estreita com a Feserp Minas. Em março de 2014, o dirigente sindical e político mineiro deu seu nome à sede da entidade em Belo Horizonte. À época, Riani reconheceu a homenagem da Federação como uma das mais valiosas da sua vida, exatamente por estar ligada à luta dos trabalhadores e ter seu nome eternizado como símbolo do movimento sindical.
Para o presidente da Feserp Minas, Cosme Nogueira, Riani é uma lenda viva do movimento sindical brasileiro e sua atuação na defesa da classe trabalhadora é um grande exemplo de patriotismo. Cosme, pelo lado pessoal, ainda afirma que Riani é e sempre será a sua referência como cidadão que ama a sua Pátria e o seu país.
Riani tem um currículo invejável, mineiro de Rio Casca, trabalhador do setor eletricitário, sindicalista, militante político, ex-deputado estadual por Minas Gerais, foi também presidente do Sindicato dos Eletricitários de Juiz de Fora, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), e presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Riani foi preso e teve seus direitos políticos cassados durante o regime militar. Após a anistia, foi eleito novamente para deputado estadual com expressiva votação.
Rota da obra
Em 1996, o jornalista Anibal Pinto havia feito uma extensa entrevista com Clodesmidt Riani. Ele, pela primeira vez, falava sobre toda a sua trajetória política e sindical. Essa entrevista resultou uma série de publicações no jornal Diário Regional durante dez semanas seguidas. Vinte e cinco anos depois, um dos filhos de Riani, Orlandsmidt, durante um encontro casual, sugeriu que aquele material fosse transformado em livro.
Segundo o autor, o processo para chegar à conslusão da obra exigiu muita pesquisa e colaboração, especialmente da família, que disponibilizou o acervo de fotos e documentos do Memorial Clodesmidt Riani, além da coleta de informações em livros e jornais de época.
Uma das intenções é humanizar o personagem, de modo a descolar Riani de definições simplistas que o reduziam a “um líder sindical”, ou “sindicalista”, ou “ex-deputado” ou “comunista”. “Era reduzir muito a pessoa Riani, fazê-lo caber em caixas e etiquetas”, concluiu Anibal.
O jornalista responsável pela documentação do notável brasileiro, define quem é Riani para o país e cita algumas de suas contribuições: “Ele está na história do Brasil como um dos maiores líderes sindicais do século passado. Muito do que ainda temos hoje em direitos dos trabalhadores foi resultado de suas lutas contra o sistema conservador e cruel das relações de trabalho no país. Podemos, entre outras, atribuir a ele participação nas conquistas do décimo-terceiro salário, aposentadoria por tempo de serviço, dois aumentos de 100% no salário mínimo, inclusão de benefícios como salário-família, auxílio-doença, auxílio-reclusão. E não só isso. A sua determinação e desprendimento em favor da justiça social e dos direitos da classe trabalhadora”.
No período abrangido por esse livro, que vai de 1920 a 1964, o leitor vai ser colocado diante de um personagem – real, vivo e humano – que abriu mão de contato com a família, com os filhos (dez ao todo), de lazer, de férias e até de ajuda de custo para viagens para cumprir, talvez, um desígnio, um propósito maior do que sua vida pessoal. Os relatos de seus filhos mostram isso. Como mostram que “ele não tinha medo de nada”, enfrentava as situações e se responsabiliza por seus atos e atitudes, como no dia 5 de abril de 1964 ao se apresentar ao comando da 4ª Região Militar. Pesquisamos também sua relação com o ex-ministro do Trabalho e ex-presidente João Goulart, de quem se tornou amigo e, em muitos momentos, conselheiro. Relação que, por momentos, mudaram o próprio governo de Jango.
“É sempre muito prazeroso conhecer a história, de uma maneira geral, e de homens como Riani, em especial. Penso que um trabalho como esse nos torna mais capacitado a decidir os caminhos do país e da sociedade. A gente chega à conclusão de que não precisamos de super-heróis, salvadores da pátria, mitos. Precisamos de pessoas comprometidas com a justiça social, com a equidade social, com alimentação, saúde, educação, trabalho, salários que deem dignidade e tranquilidade a quem trabalha e suas famílias. Só o conhecimento é capaz de mudar essa penúria e essa injustiça que o país o atravessa. Por isso, estudar e conhecer homens como Clodesmidt Riani é muito importante. Para encerrar, em agosto vamos contar como foi os anos seguintes ao golpe militar. As prisões, torturas, perseguições e traições. A prisão na Ilha Grande e seu retorno à política, à vida sindical e, finalmente, à família. Aguarde!”, concluiu o autor.
Família presente
Em entrevista à Feserp Minas, o filho de Clodesmidt, Orlandsmidt Riani, que é bancário aposentado e atualmente ocupa cargos em entidades assistenciais, desportivas e beneficentes, compartilhou que seu pai é uma referência de idealismo, honestidade, coragem, lutas incansáveis por uma causa justa e muito preocupado com a vida e o cotidiano dos trabalhadores. “Como pai, embora ‘órfão de pai vivo’ desde o final de minha infância e adolescência – dos 11 aos 18 anos – já que o mesmo se encontrava preso, posso afirmar com a mais absoluta certeza que o referencial de meu pai está na sua intocável honestidade, no seu caráter de homem público e privado e de seus exemplos nas mais variadas situações que a vida lhe impôs, ou seja, minha maior herança são seus exemplos.”, revelou Orlandsmidt.
Falando por toda sua família, Orlandsmidt disse que todos enxergam a materialização da história do patriarca como uma oportunidade de mostrar a vida sindical, política e familiar do homem que muitos intitulavam com o slogan de “O homem que parava o Brasil”, devido às greves gerais que liderava. Sendo exceção à essa “regra”, o golpe militar de 1964, quando esteve proibido de exercer sua liberdade, comunicar à imprensa e aos bancos escolares de todo o país.
Desde os momentos perdidos pelo trabalho do seu pai (até os 11 anos) e, mais tarde, referente ao período que ele esteve encarcerado no presídio da Ilha Grande, por conta da ditadura, seu filho lamenta a ausência de Clodesmidt enquanto figura paterna, mas sem o condenar, já que diferentes fatores, inclusive a força militar, o impediram de estar mais presente no seio familiar. Porém, após sua libertação em 1971, até os dias de hoje, Orlandsmidt declarou que há uma relação fraternal, de muito respeito, muita solidariedade mútua e de muitos abraços, beijos e pedidos de bênçãos (bença). “Meu pai é meu herói!”, disse.
Visão sindical
Para dar uma visão do mundo sindical, Alvaro Egea, Secretário-geral da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), deu uma panorama geral da importãncia de uma obra como essa diante do discurso implicitamente – ou não – imposto no contexto histórico nacional: “É voz corrente que o Brasil é um país sem memória. Esse conceito foi construído pelas classes dominantes para vender a ideia de que o Brasil é um pais sem luta de classes, onde os escravos não lutaram contra a escravidão, que durante o domínio colonial não houve resistência popular contra a colonização portuguesa, que os direitos trabalhistas e sociais foram fruto da bondade das elites e não da conquista dos trabalhadores. Foi tudo exatamente ao contrario, houve luta contra a escravidão, houve resistência popular contra a colonização e as lutas operárias precederam a criação da legislação trabalhista. Enfim, há uma ideia distorcida para perpetuar a dominação do poder econômico e impedir a emancipação dos trabalhadores e do povo brasileiro. Quando um líder sindical da envergadura de Clodesmidt Riani tem um livro de memória publicado, como esse livro escrito por Anibal Pinto, é motivo de comemoração e de exaltação.”.
Alvaro afirma que atualmente existe a intenção de “vender no mercado das ideias” que a luta sindical dos trabalhadores começou em 1978 no ABC. “Não foi assim. A luta sindical começou há mais de um século, nas primeiras lutas operárias no início do século XX. Clodesmidt Riani presidiu a CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Industria) nos anos de 1960, antes do golpe militar de abril de 1964. Nesses anos de muita luta social, as lideranças nacionais agrupadas em confederações, lideradas por Riani da CNTI, criaram o CGT, Comando Geral dos Trabalhadores, a 1ª experiência de central sindical no Brasil. Ou seja, reverenciar Riani é reconhecer o protagonismo dos trabalhadores na luta. É reverenciar a conquista do 13º salario, as discussões sobre a reforma agrária, reformas de Base, limitação da remessa de lucros e temas das causas sindicais e nacionais, tudo isso antes do golpe de 64. Ainda é importante registrar que Riani inaugurou o diálogo democrático das lideranças sindicais nacionais com o então presidente da República, João Goulart, conversa que somente foi retomada após a derrota da ditadura em 1985”, explicou o sindicalista.
Imprensa Feserp Minas